eu destruirei vocês #65: o Rio de Janeiro continua lá
a viagem para o Rio de Janeiro entre os dias 1 e 6 de fevereiro de 2023
depois de ter passado cinco dias no [ Rio de Janeiro ], trago notícias chocantes: as pessoas realmente falam com aquele sotaque lá. não é invenção do Manoel Carlos.
é isso mesmo! entre os dias 1 e 6 de fevereiro, eu e a Bruna estivemos dando uma volta na denominada cidade maravilhosa para participar da 13ª Bienal da UNE — juntamente com outros 43 acadêmicos da Universidade do Extremo Sul Catarinense em um ônibus inteiramente pago pela instituição. e considerando que entre as cidades de Criciúma/SC e Rio de Janeiro/RJ existe uma distância de 1,314km, essa acabou sendo uma viagem de 25 horas na idade e 24 horas na volta — é que o trânsito em São Paulo na ida estava complicadíssimo. como ele normalmente é
agora eu vou entrar em modo diário de viagens: nós tecnicamente saímos de Criciúma no dia 31 de janeiro às 23:53 da noite, então foram alguns minutos de viagem ainda no primeiro mês do ano. teoricamente a viagem era para ter durado pouco mais de 18 horas, mas acho que quem nos entregou essa estimativa nunca tinha andado de ônibus do sul de Santa Catarina até a cidade do Rio de Janeiro — como já dito, são 1,314km. isso é praticamente a distância de Criciúma até Ratanabá/AM
pelo menos na ida, eu contei que fizemos cinco paradas em lanchonetes 24 horas caríssimas — um buffet a 110 reais/kg é a norma no trajeto entre São Paulo e Rio. a minha parte favorita nessas paradas não é nem necessariamente comer — até porque 10 reais por uma coxinha é putaria — mas sim dar uma olhada no que eles têm para vender. era comum nesses lugares encontrar quiosques com inúmeros CDs e DVDs que dava pra ver que estavam lá há mais de dez anos — não acho que relançaram nos últimos tempos o disco Tour Generación RBD en vivo, por exemplo. fora a quantidade assustadora de itens de cowboy nesses lugares, como essa cabeça de boi por apenas R$1,200
mas pelo menos essas paradas também serviram para eu conseguir provar novos produtos alimentícios. a Tortuguita de 7Belo, por exemplo, é um negócio que aparentemente existe e é ótimo — chocolate combina demais com o gostinho da bala, é coisa de maluco. é facilmente a Tortuguita com o melhor cheiro que existe — mas também eu não vou dizer que é melhor do que a finada de gelatina
outro produto absolutamente sem defeitos que encontramos foram os Doces Famoso, que são tipo uns tabletes cremosos de chocolate, doce de leite, coco e vários outros sabores que era vendido no interior de São Paulo — aparentemente a empresa é de Minas Gerais, e dói demais saber que eu só vou poder comer isso de novo quando visitar algum desses lugares. é tipo o alimento perfeito, sabe? é uma bomba de açúcar diretamente nas suas entranhas. nada melhor que isso
e depois dessas 25 horas de viagem, chegamos ao [ Alojamento ] às duas horas da manhã. sinceramente, não posso reclamar muito dele considerando que veio de brinde junto com o preço da inscrição na Bienal, mas bah, a Cidade Universitária da UFRJ fica na puta que pariu, hein? com todo o respeito. dormimos todos os dias na sala H-102 do prédio do curso de Letras da instituição, que graças a Deus tinha ar-condicionado — uma vantagem de termos sido a primeiro delegação do Brasil a chegar no alojamento. era demorar mais umas duas horas e nós teríamos que colocar as barracas no corredor em um calor de 58º celsius
mas no dia seguinte, enfim, era a hora dela: a 13ª Bienal da UNE — ou “o motivo pelo qual estávamos ali”. mas que evento curioso
realizado este ano na [ Fundição Progresso ], a Bienal da UNE é um evento bienal da UNE — no caso, a União Nacional dos Estudantes, organização presidida por José Serra entre os anos de 1963 e 1964. antes de começar, um aviso: nem eu nem a Bruna fazemos parte de alguma organização estudantil — nem UJS, nem UJC, nem UJR, apesar de termos comprado um caderninho do Che Guevara de dois militantes muito simpáticos e engraçados da UJR da Bahia. admito que eu nem fazia ideia da existência da União da Juventude Rebelião — e aparentemente nem uma garota que estava do nosso lado em certo momento, que conversando com um membro da organização soltou a seguinte frase
UJR? Eu pensei que isso fosse lenda urbana.
enfim, obviamente esse foi um evento cheio de política. agora que estamos em um governo normal, vários ministros participaram do evento — até a Marina Silva apareceu por lá um dia. não sei porque, mas acho que não deve ter tido nenhum ministro do governo Bolsonaro participando de eventos assim nos últimos anos. era um evento para a juventude que quer mudar o país e o mundo — por favor, tentem fazer isso mesmo, porque no alto dos meus 26 anos eu já sou amarga demais pra achar que o mundo tem salvação
em determinado momento do evento, eu e a Bruna fomos paradas por um produtor do Canal Futura que nos convidou pra gravar uma peça publicitária em que teríamos que responder duas perguntas: “o que é a juventude?” e “o que é a educação para você?”. declinamos porque nenhuma das duas conseguiria responder isso. nós passamos dos 25, não acreditamos mais que algo bom possa acontecer nesse planeta
mas apesar dessa amargura no coração, nós aproveitamos bastante a Bienal em si. sugamos ao máximo os 125 reais da nossa inscrição. assistimos quase todos os espetáculos de teatro e dança — alguns bons, outros muito ruins — e participamos de todas as oficinas humanamente possíveis. na de audiovisual nós aprendemos como iluminar uma cena e ganhamos uma ecobag muito grande, na de teatro político rolaram uns exercícios super interessantes e na rebolativa, ministrada por uma das dançarinas do Rennan da Penha, eu não participei. tinha também uma oficina automotiva há uns 2km da Fundição, caso precisassem colocar um farol de xenon em algum carro
em suma, a 13ª Bienal da UNE certamente foi um dos eventos que eu já participei. o lugar, pelo menos, era muito bonito — diretamente na frente dos Arcos da Lapa, onde também aconteceram alguns shows nacionais de artistas que eu não me importo muito. aparentemente rolou muita briga e roubo de celular no show da BaianaSystem, e eu imagino o quão engraçado deve ser uma trocação de soco com isso tocando no fundo
a partir do terceiro dia de viagem foi quando decidimos começar oficialmente a turistar pela cidade. já tínhamos adquirido conhecimento demais na Bienal, o cérebro já estava ficando pesado e era chegada a hora de esquecer todas as informações novas recebidas até então. como a Fundição Progresso é bem no coração da Lapa, nossos primeiros atos de reconhecimento terrestre foram por aí mesmo, caminhando pelos vários bares e restaurantes do bairro. um deles chamou nossa atenção: um prédio antigo de três andares com vários idosos assistindo um documentário no térreo e luzes coloridas + uma música super alta tocando do segundo andar. “bah, temos que entrar aí, né”
fomos subindo os andares e eventualmente descobrimos o que existia no terraço: um restaurante na laje. era o [ Cazota ], uma das melhores experiências gastronômicas que eu já tive na minha vida e também o lugar onde seis mini pães de alho custavam 18 reais
mas que comida estupenda, meu Deus do céu. além dos pães de alho perfeitos, pedimos também algo misterioso chamado choribolinha — que descobrimos ser um pão de alho com chimichurri e linguiça artesanal. duas unidades por apenas 18 reais? óbvio que sim, mas bah, ouso até dizer que vale a pena. basicamente tudo lá era maravilhoso, incluindo a caipirinha, e agora que eu tomei uma caipirinha do Rio de Janeiro, todas as que são feitas em Criciúma não valem mais a pena
ao todo, na nossa estadia, provamos caipirinhas de três lugares diferentes. a do Cazola é perfeita e custou 25 reais, mais cara do que as criciumenses, mas também dá pra encontrar caipirinha muito mais barata. se você mora no Rio obviamente já sabe disso, mas na frente dos Arcos da Lapa tem uma feirinha com uns cem quiosques diferentes que abre toda noite e dá pra encontrar super fácil caipirinha por dez reais — compramos uma na [ Barraca da Fátima ] e sinceramente, tinha quase o mesmo gosto da de 25 reais, era tão perfeita quanto. infelizmente perdi a oportunidade de provar uma caipirinha de amora nesse quiosque, mas vida que segue. no dia seguinte, porém, na [ Feira da Glória ], pegamos uma caipirinha de 15 reais que era ruim e me lembrou as dos bares de Criciúma. aquele gosto de limão azedo. nem tudo na vida são flores
falando nela, a Feira da Glória é muito legal. pelo que eu entendi, ela só funciona aos domingos, mas tem de tudo lá — desde as melhores goiabas que eu já comi em toda a minha vida até disco de vinil do grupo Bala Desejo. foi lá onde eu e a Bruna encontramos & conhecemos o
, da newsletter e a , da — adorei e achei super conveniente que os dois únicos amigos da internet que encontramos lá também tem newsletters. eles são incríveis e nos mostraram os melhores pontos, como uma barraquinha de sanduíche de linguiça que eu não bati fotos e cujo nome não consegui descobrir em uma pesquisa de dez minutos no Google. fica aí o mistériooutros produtos que adquirimos na Feira incluem suco de laranja & acerola, um suco que basicamente inexiste no sul do país mas que é perfeito — compramos dois copos desse negócio mais um sacolé do mesmo sabor. todo mundo que mora acima do Paraná já deve saber que esse negócio é bom, mas pra alguém que nunca tinha pisado no Rio, foi uma revelação isso aí. provamos também uma ciriguela e descobri que isso não é uma palavra inventada pelo Diogo Defante
fora isso, também adorei que mais pro final da feira o pessoal começava a vender qualquer coisa. um dos quiosques que encontramos tinha DVDs de Amélie Poulain, mini craques da Coca-Cola, um telefone fixo e chaveiros dos anos 70 — se você quiser comprar todas essas coisas, não precisa ir em quatro lugares diferentes. é só ir nesse. e o melhor é que eram vários desses quiosques aleatórios um depois do outro, e logo ao lado você encontrava alguém vendendo um brownie vegano canábico super de boa na sua tenda. eu adoro cidade grande
apesar de termos ido pro Rio de Janeiro, não deu tempo de fazer quase nenhuma atividade clássica de turista. não fomos no Pão de Açúcar, não fomos em Copabacana nem em Ipanema e também não vimos o Cristo Redentor — mas aí porque ele é chato mesmo, é só uma estátua muito grande. de atividade mais clássica, deu pra ir na [ Escadaria Selarón ] e também o [ Museu de Arte do Rio ] — mas não o Museu do Amanhã nem o Museu de Arte Moderna. basicamente, o que estou falando é que teremos que voltar pra lá em algum momento. não só por isso, mas também porque é uma cidade incrível
um dos melhores momentos da viagem — que na verdade foi algo meio inconveniente — foi quando saímos caminhando em direção à Cinelândia para visitar o [ Theatro Municipal do Rio de Janeiro ]. quando finalmente chegamos lá pra conhecer o lugar, tinha uma equipe de filmagem com uns cinquenta figurantes na praça na frente do teatro gravando uma cena pra alguma coisa. parecia ser algo como um cometa caindo na Terra ou o Godzilla atacando a cidade, porque todos os figurantes tinham que olhar pra trás e sair correndo em desespero quando a diretora mandava. e como eles estavam, repito, na praça diretamente na frente do teatro, não tinha como entrar lá naquela momento
não deu pra conhecer o Theatro Municipal dessa vez, mas deve ser muito legal viver em uma cidade onde coisas acontecem
considerações finais
eu amo vocês, gente. obrigada por lerem tudo que eu faço — ou nem tudo, sei lá, duvido que exista alguém que leu todas as edições, e nem tem porque fazer isso considerando que as cinco primeiras edições eram ruins, mas muito obrigada por estarem sempre aqui semana após semana. daqui a pouco vou colocar alguns links aleatórios pra vocês aqui, porque é isso que eu faço — e eu adoro fazer. meu Deus, eu adoro escrever essa newsletter. é sério. obrigada de novo!
deixa eu pensar se tem mais algo que eu quero falar. ah, essa segunda-feira eu lancei uma edição nova exclusiva para assinantes. você pode assinar a eu destruirei vocês por dez reais mensais, e isso te dá acesso a uma edição extra quinzenal em que eu falo sobre uns assuntos que demandam mais pesquisa do que o normal — essa última edição teve uma pesquisa bem extensa sobre jogos perdidos de i-mode, um serviço japonês de jogos pra celular dos anos 2000. tinha coisa que eu tive que usar o Google Tradutor pra descobrir porque não existia nada na internet anglofônica sobre o assunto. Google Tradutor, sabe
ah, estou pensando em começar a usar a função Chat do aplicativo do Substack também, que serve pra conversar com o público de um jeito mais rápido & fácil, mas aparentemente pra começar a usar o Chat eu tenho que mandar um e-mail pra todos os meus inscritos, e toda vez que eu envio mais de um e-mail por semana umas cinco pessoas param de seguir a newsletter.
para muita gente, o e-mail é sagrado.
isa, gosto tanto do jeito que você escreve, sabia? espero poder continuar lendo coisas suas por muitos anos ainda. seu jeito de mostrar o mundo pelo texto tem sempre uma vivacidade, um juá de vrive muito revigorante, sempre que eu quero me inspirar pra escrever crônica eu venho ler a Eu Destruirei Vocês ♥
quando eu fui pro Rio, tava a trabalho com minha esposa e não conseguimos fazer quase nada. Ela conhece bem a cidade, eu nem praia vi, pra mim o Rio só tem um porto e olhe lá. Mas agora eu quero voltar porque parece que a Feira da Glória é o melhor lugar do mundo.
isa, eu li TODAS as Eu Destruirei Vocês lançadas até hoje (exceto por duas das exclusivas pra assinantes que ainda não deu tempo). Até as que você considera ruins foram ótimas no momento em que li, estou aqui lendo essa num horário INSALUBRE inclusive pra não ficar atrasado com a que vai sair amanhã. Pegue leve consigo mesma e lembre-se que pelo menos 1 fã já leu tudo que tu escreveu aqui!